quinta-feira, 24 de novembro de 2016



Que trago?

… e o copo estava ali…
para trás as castanhas, a brasa,
o licor a repousar na adega 
a data, a hora, a etiqueta, a amora silvestre  …
até a laranja do pomar se remeteu
ao silêncio do inverno nas arribas.

Como disseste  em verso etílico e breve :
 deixa o açúcar
e percebe como arde um cálice de aguardente!
É verdade. Basta um trago
para silenciar a estridência das castanhas
e saborear as linhas de
um poema secreto.

E o copo é o corpo e a vida a passar
e o sabor vai tão depressa
que o corpo e a alma se deixam
plasmar de plenitude.

A beleza do copo é sentimental,
a antiguidade do balcão e a garrafa do canto
têm igual valor

e há palavras que me vestiste  
que se recusam a envelhecer.

Teresa Subtil


domingo, 6 de novembro de 2016

Reflexo


Na mesma sede caminhávamos:
o passo na cadência do desejo,
o corpo nervoso balançado
nos contornos do abraço
e a noite a fazer-se alvorada do olhar.
Era fremente o desejo de ficar.
Havia missangas a abrir caminhos
e no peito botões a saltar.
Era a poesia a acontecer
e a febre de a escrever na pele,
de a dizer no beijo.
Éramos reflexo de fonte,
sede a crescer na noite.

Teresa Almeida Subtil